Ao longo dos últimos tempos venho “batendo na tecla” de que, no mundo do “compliance” ou conformidade, o qual passa pela implementação, cumprimento e certificação com base em requisitos ou diretrizes de excelência, sejam estes focados em modelos de gestão de empresas, qualificação técnica de profissionais de diversos segmentos, requisitos de projeto/fabricação de produtos ou requisitos de prestação de serviços, a criação de valor é fundamental para que o investimento em conformidade seja muito mais do que um objetivo de marketing ou de resultado de curto prazo, mas sim uma solução estratégica e de continuidade.
A sensação de miopia e desconfiança em torno de referenciais de conformidade (certificações) vem crescendo ao longo dos últimos anos no Brasil de uma maneira muito significativa, provocando uma enorme perda de credibilidade.
E este caminho parece não ter volta quando tratamos dos modelos tradicionais de implementação e certificação da conformidade.
A Indústria do Papel Assinado
Criados a partir de um propósito genuíno de reconhecer e comunicar ao mercado, o diferencial, valor e mérito, diante do investimento e esforço realizados em torno do atendimento a requisitos considerados de excelência em diversos temas, as certificações (de modelos de gestão, de pessoas, de produtos e serviços) naturalmente transformaram-se em soluções muito interessantes para um mercado progressivamente maior, mais competitivo, aberto e global.
Na medida em que entidades reconhecidas mundialmente evoluíam em torno da publicação e atualização permanente de requisitos e diretrizes de excelência (como a própria ISO, ONU, OCDE e outras), foi-se tornando cada vez mais “confortável” e lógico para o mercado, delegar ou terceirizar a avaliação, com base em requisitos considerados importantes (e alguns até obrigatórios) de um fornecedor, cliente, profissional ou parceiro.
Por outro, como infelizmente não deixa de ser muito comum em nosso mercado, boas iniciativas muitas vezes acabam sendo descaracterizadas e transformadas em arremedos ou caricaturas daquilo que originalmente representavam. E tudo isso ancorado na nefasta cultura do menor esforço e da busca por vantagem, mesmo que indevida. Ou seja, em torno desta realidade, uma verdadeira indústria de “papéis assinados” tomou conta do mercado, levando a projeção do “me engana que eu gosto” generalizado, acompanhado de incongruências, escândalos, tragédias e muito desperdício de recursos, tais como:
- O país, que está entre os 12 em volumes de certificados ISO9001 no mundo, figura sempre entre os últimos em rankings mundiais de competitividade global;
- Empresas certificadas em gestão ambiental sendo responsáveis por gigantescas tragédias ambientais e sociais nos últimos anos;
- O país que assistia perplexo ao maior escândalo de corrupção da história ocorrido em seu território, ser exposto e narrado na grande mídia sete anos atrás, já figura entre os com maior número de certificados de gestão antissuborno emitidos no mundo;
- Profissionais recém-formados, ou ainda em formação, já figurando como profissionais de compliance ou governança certificados, ostentando o mesmo selo de outros profissionais com mais de 25 ou 30 anos de carreira, além de alta qualificação alcançada.
No Brasil, tal “metamorfose” vem ainda sendo impulsionada e garantida por um modelo e uma cultura impregnada de intervencionismo estatal ou por oligopólios de entidades que são parte dessa “indústria”, sempre focadas na manutenção deste tradicionalismo e na própria autopreservação, usufruindo ainda de um status construído numa época de baixa concorrência e muita influência política.
Passou-se a ter menor importância o valor agregado que o selo oferece ao mercado e suas partes interessadas, do que o “quantas empresas você já certificou?”; “quem lhe reconhece a me certificar?”; “quem reconhece essa sua certificação?”; “este selo é reconhecido por A ou B?”.
E antes que eu seja mal interpretado, considero SIM importante a participação direta do Estado controlando, gerindo e fiscalizando modelos de avaliação de certificação COMPULSÓRIOS, com foco na saúde e segurança do consumidor e da sociedade. Por outro lado, por que o Estado deve se envolver em vários outros modelos VOLUNTÁRIOS de certificação responsáveis por auferir e reconhecer produtividade, integridade, gestão de recursos, qualificação técnica de profissionais, e tantos outros não relacionados aos aspectos de saúde e segurança citados?
Não seria muito melhor deixar que a própria criação e atualização destes modelos e processos de avaliação (e selos de certificação) fossem estimulados pela livre competição, reconhecimento e capacidade de agregar valor, entre as entidades dispostas a competir neste mercado, deixando que este mesmo mercado venha a medir, avaliar e escolher o que buscar ou o que reconhecer?
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A virada de chave a partir da Inovação e Disrupção
Depois de quase 15 anos vivendo diariamente o modelo tradicional de avaliações de conformidade e certificação, resolvi pessoalmente me dedicar a um negócio que fosse capaz de trazer à tona estes questionamentos, não somente através de críticas, mas especialmente por meio de soluções e propostas concretas, que pudessem quebrar este paradigma do “selo pelo selo”.
O foco é muito simples: não queria um cliente buscando uma certificação com aquele sentimento do “preciso daquele papel”, mas sim com a convicção do “preciso de alguém confiável e competente pra me mostrar o caminho e me dizer se estou na direção correta”. E “direção correta” dita por alguém “confiável e competente” pode ser representada pela equação:
(efetividade + valor agregado) x (transparência + objetividade + credibilidade + rastreabilidade)
Neste momento, você pode estar pensando: “fácil falar”. E você tem razão!
A base dessa transformação envolve (e tem envolvido) muito trabalho, muita observação, muita análise e busca incessante por modelos que ofereçam todos os elementos destacados pela equação acima.
O que posso afirmar até aqui, e apesar das dificuldades de um mercado habituado e até viciado na tradicionalidade pré-existente e comprovadamente pouco efetiva em muitos casos, é que pouco a pouco, em conjunto com parceiros de referência do mercado e com este mesmo espírito transformador, aproveitando minha experiência pregressa, mas também com muito interesse em inovar e transformar este ambiente, tenho tido a oportunidade de atuar e participar diretamente na construção de modelos altamente disruptivos de avaliação de conformidade e certificação, como a primeira certificação de conselheiros consultivos do Brasil (ConCertif®), a Certificação de Sistemas de Gestão Anticorrupção (CPINTEGRITY®), a Certificação de Sistemas de Gestão de Proteção e Privacidade de Dados (CPDATASEC®), e a certificação de formadores de opinião da cultura da generosidade (CGENCERTI®).
Não se trata só de criticar o que existia (e ainda existe). Trata-se também (e principalmente) de trabalhar arduamente para oferecer e promover caminhos alternativos em prol da melhoria do ambiente de negócios e de trabalho.
Artigo publicado originalmente na minha coluna no Tribuna da Imprensa Digital