Muitas empresas de pequeno e médio porte ainda resistem arduamente a adotar modelos e sistemas de governança efetivos em suas estruturas. Em alguns casos, ainda não compreendem o tema como uma prioridade para o negócio. Em outras situações, têm a percepção de que incorrerão em altos custos para implementar este novo sistema.
Temos ainda as organizações lideradas por fundadores extremamente apegados ao negócio, e sem qualquer disposição em abrir mão de seu controle e de sua autonomia para tomar decisões, consequência natural de um sistema de governança efetivo.
A realidade é que a ausência da governança nestas organizações, e que representam a enorme maioria das empresas no mercado nacional, é o que provoca e sempre provocou o represamento da melhoria de nosso ambiente de negócios, na direção de maior produtividade, perenidade, sustentabilidade, profissionalismo, planejamento estratégico estruturado e competitividade.
Além de limitações e dificuldades inerentes à este mercado de PMEs, que incluem menor fôlego financeiro, baixa capilaridade, restrição de recursos para investimentos e aumento de produção, e alta competitividade de empresas de maior porte, estas mesmas organizações são normalmente as que mais sofrem impactos imediatos, diante das condições de mercado que são muito comuns e extremas no Brasil:
- Burocratização excessiva;
- Insegurança Econômica, Jurídica e Política;
- Precariedade de infraestrutura; e
- Ausência de um projeto nacional de desenvolvimento econômico que avance para além de um ciclo eleitoral.
Diante deste cenário, a relevância de um sistema de governança torna-se ainda mais relevante e prioritário para qualquer empreendedor, gestor ou fundador que preze pela continuidade, autonomia e sustentabilidade de seu próprio negócio.
Segundo Wanderlei Passarella, Diretor do CELINT e sócio da Joint Venture CELINTBRA (empresa formada pelas empresas CELINT e BRA Certificadora, idealizadores da Primeira Certificação de Conselheiros Consultivos do Brasil – CONCERTIF®), “Governança Corporativa é a preparação para a compreensão profunda das grandes questões (aquelas muito importantes mas não tão urgentes) de uma empresa e a tomada de decisões sobre estas, bem como sobre seu controle, por meio de instâncias distribuídas e adequadas. Equilibra poderes e foca em ações prospectivas e prescritivas. Desta forma cria valor e mira na perenização adaptativa do negócio.”
Benefícios da Governança Corporativa
Wanderlei Passarella, em seu EBOOK “Formação de Conselheiros para uma nova fase da Governança Corporativa no Brasil”, traz seis principais pontos de melhoria diante da instalação de conselhos de administração ou consultivos nas empresas:
- Sistema de Decisões mais Racional
- Aporte Estratégico
- Avanços em Gestão
- Equilíbrio de Poderes
- Desenvolvimento do Time e Sucessão
- Disciplina ao Processo Empresarial
Já segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, existem algumas razões para adotar práticas de governança corporativa em empresas de capital fechado:
- Preservação e otimização de valor;
- Melhorias de Gestão;
- Acesso a recursos financeiros e não financeiros;
- Longevidade e Sustentabilidade;
- Administração de conflitos de interesse de forma mais efetiva; e
- Avaliação permanente de propósito.
Sobre o quarto ponto destacado pelo IBGC, vejam os dados abaixo da pesquisa feita pela Deloitte com 100 pequenas empresa de maior crescimento no Brasil:
Fonte: Revista PEGN
Mas para que esses benefícios sejam sentidos pela organização, é fundamental que a Governança Corporativa de fato faça parte do cotidiano, por meio de um modelo efetivo e alinhado aos valores, interesses e visão da organização e de suas partes interessadas.
Tomada de decisão mais precisa e imparcial
Destacado pelo IBGC como um dos pontos que justificam a implementação da governança corporativa em empresas de capital fechado, os conflitos de interesses são extremamente comuns, em especial nas empresas familiares. Diante de um sistema de governança que estimule e preserve a imparcialidade nas decisões, a partir de uma estrutura que inclua conselheiros profissionais e preferencialmente certificados, que não fazem parte da família fundadora, que não tenham qualquer interesse pessoal nas decisões, e até mesmo que não sejam impactados por questões pessoais e emocionais em suas decisões, é possível reduzir de forma sensível os riscos diante de decisões que não estejam alinhadas aos melhores interesses da organização. Mais do que isso:
Neste ponto, torna-se relevante destacar ainda a necessidade de adequado processo de recrutamento e seleção de conselheiros. Além da formação, qualificação e a experiência como executivo, podemos considerar um processo de certificação de conselheiros como sendo um diferencial capaz de minimizar os riscos de fracasso da seleção realizada. No entanto, alguns aspectos desta certificação devem ser observados:
- Exigências de uma formação complementar de referência, e que tenha sido capaz de transmitir os conceitos, princípios e técnicas de governança corporativa e, adicionalmente, que tenha sido capaz também de expor de forma adequada às características, desafios e dificuldades encontradas durante sua atuação em conselhos de empresas de capital fechado e empresas familiares;
- Avaliação de conhecimento e perfil efetivo e imparcial, passível de aprovação ou reprovação, sendo esta a porta de entrada para aqueles que realmente estão enquadrados às demandas e desafios que serão enfrentados na função de conselheiro;
- Garantia de um processo permanente de controle, monitoramento e rastreabilidade do que comumente chamamos de lifelong learning do conselheiro, alinhado às demandas relacionadas ao tema Governança Corporativa em seus aspectos mais atuais;
- A previsibilidade de um processo rastreável e transparente de manutenção periódica da certificação, que inclua evidências aderentes e alinhadas aos objetivos da carreira de um conselheiro; e
- Atualização e melhoria contínua permanente dos requisitos e do processo de certificação, em compasso às mudanças no ambiente de negócios, dos conceitos de governança, dos desafios de mercado, e outras demandas que venham a surgir e impactar na atuação dos conselheiros.
Esta tem sido uma das principais empreitadas das quais tenho pessoalmente me envolvido nos últimos anos, aplicando todo conhecimento e experiência adquiridas, além da busca incessante por compreender os desafios que cercam a construção de modelos de certificação efetivos para o ecossistema de Governança Corporativa no Brasil.
Acredito que a partir da governança corporativa para PMEs, promovendo e garantindo um acompanhamento, monitoramento, controle e direcionamento profissional e adequado, é sim possível alavancarmos a competitividade, crescimento e resultado destas organizações, transformando de forma sensível todo o ambiente de negócios no Brasil.
Este artigo foi publicado originalmente no jornal Tribuna da Imprensa Digital